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Ex-juiz Sérgio Moro renuncia cargo de Ministro da Justiça do Brasil

Brasília, 24 de abril (Prensa Latina) O ex-juiz e ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Sérgio Moro, renunciou hoje, argumentando que ele reprova a interferência política do presidente Jair Bolsonaro nos assuntos de seu gabinete.

«O presidente (Bolsonaro) não me quer no cargo e eu sempre quis manter meu compromisso de respeitar o estado de direito», disse Moro em uma intervenção de cerca de 40 minutos para corroborar sua saída do cargo.

Ele esclareceu que sua única condição ao assumir a liderança da Justiça era que «se algo acontecesse comigo, minha família não seria abandonada».

Ele reiterou que lhe foi prometida carta branca para trabalhar e que lamentou que sua demissão ocorra em meio a uma crise de saúde e à luta contra a pandemia de Covid-19.

Segundo Moro, ele sempre comunicava ao chefe de estado que precisava de uma causa para aprovar a mudança na direção-geral da Polícia Federal (PF), pois o trabalho nesse comando estava sendo positivo.

Bolsonaro demitiu o chefe da PF, Maurício Leite Valeixo, o braço direito de Moro. O decreto da referida separação foi publicado nesta sexta-feira no Jornal Oficial da União.

A demissão aumentou a tensão entre Bolsonaro e Moro, que ameaçavam entregar o emprego se o capanga fosse demitido, como era o caso.

Valeixo e Moro trabalharam juntos na operação anticorrupção Lava Jato, o que lhes permitiu alcançar os cargos que ocupavam.

O ex-magistrado insistiu que há uma interferência clara e política na PF e Bolsonaro quer que alguém em quem confie nessa direção, tenha contato pessoal e esteja ciente das investigações, um pedido inadmissível, segundo o ministro.

«Tive outras divergências e muitas convergências com o presidente, que não me quer no cargo», disse Moro, que defendeu seu compromisso de respeitar o Estado de Direito.

O ex-juiz seria o segundo detentor de uma carteira importante, que deixou o executivo nas últimas semanas.

Bolsonaro depôs o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, após desentendimentos entre os dois sobre isolamento social, a principal medida para enfrentar a pandemia de Covid-19, mas que o governante não compartilha.

Fontes jornalísticas garantiram que mesmo os ministros da ala militar, como os generais Walter Souza Braga Netto, chefe da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, chefe do portfólio do governo, tentaram convencer o ex-magistrado a permanecer no cargo.

Moro ganhou notoriedade nacional e internacional ao comandar, entre março de 2014 e novembro de 2018, o julgamento na primeira instância dos crimes identificados no caso Lava Jato.

Sem provas, Moro puniu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 12 de julho de 2017, por nove anos e seis meses de prisão por supostos atos de corrupção, sendo esta a primeira vez na história brasileira que um ex-chefe de Estado foi condenado criminalmente, decisão confirmada em segunda instância.

Com suas manobras e a colaboração de generais e juízes, ele também impediu a candidatura de Lula em 2018, quando era o favorito a prevalecer nas eleições presidenciais que Bolsonaro ganhou.

Em novembro de 2018, Moro concordou em ser ministro do governo Bolsonaro, que comentou que teria «carta branca» para designar e executar ações na luta contra o crime organizado e a corrupção.

E, nesse cenário, ele deixou o cargo de juiz federal, ao aceitar o convite do presidente, com a promessa de ter total autonomia.

npg / ocs / bm

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