São Paulo, 18 de set (Prensa Latina) O ativista político e engenheiro florestal Renato Farac afirmou hoje à Prensa Latina que as queimadas no Centro-oeste do Brasil são coordenadas por grandes proprietários fundiários para especular com a posse adquirida por meio dos incêndios.
As queimadas que ocorrem no Pantanal, bioma florestal que abrange grande parte do Centro-oeste do Brasil e também parte do Norte e do Paraguai, são uma das maiores que já ocorreram no País. Milhares de espécies estão sendo atingidas pelo incidente. Além disso, quase metade dos territórios indígenas regularizados na região já foi alcançado pelos fogos – perdendo plantações e habitações, segundo a Agência Pública.
De acordo com o climatologista Carlos Afonso Nobre, ex-pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Sociais (Inpe), os incêndios na região ocorrem por ação humana. Ele explicou, em entrevista à CNN, que é desta forma porque não há tempestades que causem descargas elétricas ou raios que possam ocasionar o fogo em uma vegetação seca.
«Eles [incêndios] todos são de origem humana. Quase todos são fogo de agricultores, pecuaristas, fazendeiros vão e colocam. Não é uma faísca acidental que surgiu em um trator que está operando ali, isso é muito raro», afirmou Nobre.
O engenheiro florestal e militante político Renato Farac, que atua junto ao movimento do campo na Bahia, disse à Prensa Latina que a região do Centro-oeste brasileiro é a que tem maior concentração fundiária. Segundo ele, maior que no Nordeste do País. Os latifúndios, em sua maioria têm acima de 10 mil hectares e são para a criação de gado, produção que muitas vezes se utiliza dos incêndios para aumentar a pastagem dos animais.
Ele afirma, entretanto, que o Pantanal é uma região de pastagem natural e que as queimadas na floresta servem para favorecer o esquema de especulação fundiária. No esquema que ele aponta, os fazendeiros queimam as árvores para expandir suas terras e especular com os novos territórios adquiridos, valorizando-os. Farac diz que isso ocorre através da grilagem, falsificando certificados de posse e notas fiscais.
Ele ainda denuncia o governo de Jair Bolsonaro, que cortou o orçamento destinado ao combate aos incêndios em 58%, segundo dados oficiais do Portal da Transparência. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles – acusado por sua relação com os latifundiários – gastou, até agosto, cerca de R$ 105 mil, que representa um total de 0,4% do orçamento já reduzido.
“O Pantanal vive uma das piores secas dos últimos 50 anos, mas os incêndios que estão ocorrendo têm uma relação maior com o governo de Jair Bolsonaro do que com as questões climáticas”, disse Farac à Prensa Latina.
“A região do Pantanal possui uma das maiores concentrações fundiárias do país e, devido a todo apoio e incentivo a destruição para abertura de novas áreas para a grilagem de terras, está nessa situação”, afirmou.
Para ele, “a culpa está no governo Bolsonaro e nos latifundiários que, sabendo do período de seca extremamente grave, cortou em 60% os recursos de prevenção e combate a incêndios florestais e acabou com o controle dessa situação com perseguição e censura dos órgãos ambientais”
Ele ainda afirma que “um incêndio nestas proporções não ocorre de maneira casual e muito menos de maneira natural. Um bom exemplo foi no ano passado, onde os latifundiários organizaram o ‘Dia do Fogo’ na Amazônia, uma ação coordenada que aumentou os focos de incêndio em mais de 300% de um dia para o outro no estado do Pará”.
O delegado Daniel Rocha, que investiga as queimadas no Pantanal, disse, em entrevista ao programa CNN 360º, que quatro proprietários estão sendo observados no momento, suspeitos de terem iniciado os incêndios na região.
bj/js
*O autor é colunista e tradutor de inglês e francês do portal Brasil 247.