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Mapuches no Chile: Para além de uma greve de fome

Por Rafael Calcines

Santiago do Chile, 15 ago (Prensa Latina) A prolongada greve de fome de 27 presos mapuches em cárceres da Araucanía chilena parece ser só um capítulo mais do secular conflito desse povo originário que se remonta a suas lutas contra a colonização estrangeira.

Entre os grevistas está o respeitado machi (líder espiritual) Celestino Córdova, que se encontra em grave estado de saúde, o que mantém expectante o país, depois da negativa da Corte Suprema de Justiça de atender a suas demandas.

Nas últimas semanas a violência tem se intensificada em pontos das regiões da Araucanía e Bío Bío, onde comunidades mapuches ocuparam seis prefeituras como forma de pressão para que o Executivo ceda à demanda dos grevistas de poder cumprir ao menos uma parte das condenações em seus territórios de origem.

Isso está previsto no Convênio 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre povos indígenas e tribais, do qual o Estado austral é signatário, mas até agora não o cumpriu.

A falta de uma resposta às reivindicações dos grevistas não é um fenômeno atribuído unicamente ao Governo de Sebastián Piñera.

É a mesma atitude que ao longo da história mantiveram sucessivas administrações ante as demandas desse povo por seus territórios que se apoderaram grandes empresas agrícolas e madeireiras, pelo respeito a sua cultura, idioma, religião e cosmovisão.

Por isso o problema vai bem mais do que permitir que Córdova e seus colegas possam voltar às respectivas comunidades, mas que tem um forte embasamento histórico que, a julgamento de muitos, só se começaria a limpar com uma mudança profunda dentro do conjunto da sociedade.

Analistas políticos e historiadores advertem que um passo fundamental nesse sentido será o plebiscito para uma nova Constituição, em 25 de outubro próximo, no qual se assegura que ganhará a opção pelo sim.

Isto abriria o caminho à redação de uma Carta Magna na qual poderia ficar plasmado o caráter plurinacional do Estado chileno, e ofereceria um verdadeiro espaço de participação aos povos ancestrais, não só mapuches.

Obviamente, nesse caminho terá muitos obstáculos, desde a oposição das grandes empresas nacionais e estrangeiras, que controlam as riquezas das terras originarias, até um arraigado racismo que emergiu com inusitada força durante os fatos violentos mais recentes.

O anterior contrasta com a posição da esmagadora maioria de cidadãos que, segundo uma pesquisa realizada, consideram que esse povo indígena deve ser reconhecido na Constituição.

Estimam também que lhes reintegrem seus territórios ancestrais, que o mapudungún (língua nativa) seja contemplado como idioma oficial, e que a solução do conflito seja encarada pela via política, não com a militarização da Araucanía.

Um respaldo que já se expressou nas ruas com bandeiras e símbolos mapuches encabeçando o grande movimento social iniciado com a revolta popular de 18 de outubro de 2019.

mem/rgh/rc/cc

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